30 de outubro de 2010

As Duas Mortes – Arthur de Salles no Olvido

“Duas vezes se morre. Primeiro na carne. Depois no nome”. É assim que o poeta Manuel Bandeira, no poema “Os Nomes, define os dois tipos de morte: a física e o esquecimento. Da primeira não podemos escapar, uma vez que somos também matéria que se finda. Entretanto, pessoas adquirem consistência de eternidade através de obras, mitos e registros, como o próprio Bandeira e milhares de personalidades de diversos campos: ciências, artes, política, etc. Infelizmente, no cenário baiano, um nome vem sendo cada vez mais esquecido: Arthur de Salles que, junto a Castro Alves e Gregório de Matos, completa um dos lados do mais ilustre triângulo da poesia baiana.
Ao ler seus versos, percebe-se a influência que o mar exerce em sua poética. “Ocaso no Mar” é considerado um dos mais belos poemas descritivos da língua portuguesa, rendendo comentários, inclusive, do crítico literário Agripino Grieco: “se toda a poética nacional se perdesse num naufrágio, e só restasse ‘Ocaso no mar’, o crítico literário, lendo-o, exclamaria: ‘Aqui viveu um grande povo! ‘


Ocaso no Mar
O céu a valva azul de uma concha semelha
de que outra valva é o mar ouriçado de escamas.
No ponto de junção, o sol – molusco em chamas -
do bisso espalha no ar a incendida centelha.
Listões de intenso anil, raias de cor vermelha,
grandes manchas de opala, arabescos e lhamas,
da luz todos os tons, da cor todas as gamas
vibram na valva azul que a valva verde espelha.
Mas todo este fulgor esmaece e se apaga.
Tímido, o olhar do sol bóia de vaga em vaga,
porque uma sombra investe a sua concha enorme.
É a noite: como um polvo, insidiosa, se eleva.
Desenrola os seus mil tentáculos de treva,
e o sol, vendo-a crescer, fecha as valvas e dorme



Apesar de tanta representatividade, Arthur de Salles é conhecido e valorizado apenas nos meios acadêmico e literário. Em 2002, foi homenageado no Nº 35 da Revista da Bahia-FUNCEB e um de seus poemas foi recitado por Maria Bethânia no show “Tempo tempo tempo tempo”. Atualmente, seu nome resume-se a fachada de Escola Pública em Salvador; e Praça e Biblioteca, em São Francisco do Conde. Milhares de baianos cantam o Hino ao Senhor do Bonfim sem saber que um dos autores é o poeta que nos deixou um acervo relativamente pequeno, porém de grande valia para a literatura brasileira, o que deveria ser motivo de orgulho e não de esquecimento para toda a população baiana.  E por falar em esquecimento, a Banho de Sol termina com uma música do saudoso Nelson Cavaquinho, que fala justamente desse assunto.

Professora a senhora vai fazer faaalta ..

Vaaaaai ficaaar pra sempre no coraação da gentee prooziinhaa haha'  ...
 

ARTHUR DE SALLES

LÚCIA

Lúcia chegou, quando do inverno o tredo
Vento agitava o coqueiral vetusto.
Vinha ofegante, e pálida de susto,
E trêmula de medo...
.
Ah! quanto beijo e quanto riso ledo
Deu-me o seu lábio, rúbido e venusto!
Quanto divino sentimento augusto,
Quanto infantil segredo!
.
Lúcia partiu... E aquele riso doce
Lúcia levou! A casa transformou-se
Num sepulcral degredo.
.
Se o vento agita o coqueiral vetusto,
Inda a recordo: pálida de susto
E trêmula de medo...


PÚRPURAS

Na púrpura do Verso o ouro do Sonho ardente,
Fio a fio, teci. Era manhã! Radiava
Em pleno azulo meu belo sol adolescente.
E o meu Sonho, a essa luz, resplendia e cantava.

Como a enrediça, a vida, indomada e ascendente,
Por minha mocidade em mil voltas serpeava.
E tudo, no esplendor de um mundo renascente,
Sonoro, multicor, multímodo, vibrava.

Musa, que não gemeu flébil, magoada e langue:
Vivaz, tonto de luz, salta o primeiro verso,
Ao primeiro rebate estuoso do meu sangue.

Ó selvas tropicais! Ó sonoras luxúrias!
Mundo excelso do Sonho, esvoaçando, disperso,
No incontentado ardor dessas rimas purpúreas!


SUB UMBRA

Levo o passo, hora morta, através da sombria
Soledade feral desta antiga abadia.
Fumosos lampiões nos corredores ermos
Lançam frios clarões palescentes e enfermos.
E vai comigo a noite e a cisma. Um vão lamento
Enche lá fora a treva. É o sussurro do vento
Que vem, vaga desfeita, inéxcita, rolando
E nas sombras claustrais vagamente expirando.
E no silêncio de novo, o astro silêncio. A forte
E fria sensação terebrante da morte
Desce destes glaciais lampiões morrediços,
Vem dos traços de sombra esguios, movediços
Que se alongam no chão de lápides marcado
E dançam no brancor expectante e gelado
Destas paredes ancestrais. Oh! estas riscas
De sombra, tateando estas paredes priscas!
Letras de ignota mão que traceja o problema
Do ser e do não ser, da dúvida suprema?
Geometria do nada? Eis que a sombra recua
E a parede aparece inteiramente nua.
E na sua mudez fria, rígida e calma
Fala-me: Tudo é vão, tudo é vão, menos a alma.
Menos a fé no além. Menos essa esperança
De outra vida de paz e bem-aventurança.
Menos essa beleza, a suprema beleza
Da renúncia de tudo, a heróica fortaleza
De fazer do silêncio a divina guarida.
Tudo mais, sombras vãs na parede da vida.



( Marcado, inicialmente,  pelo Simbolismo e passando, em seguida, por  uma experiência parnasiana, não cultivará a impassibilidade. Nos momentos mais felizes de sua poesia, e que não são poucos, Arthur de Salles conseguiu a perfeita consonância, entre a música do verso e o seu conteúdo )


29 de outubro de 2010

Simbolimo

 
    O HOMEM


O homem, o poeta, é o mundo consciente...
Pelos seus lábios fala a pedra, o nevoeiro
No silencio, ele oculta o que mais sente
No que é mais vago, é mais verdadeiro.

O ser humano como tudo, principia
Em insofismável matéria, que termina
Numa vontade, numa luz, em harmonia
Numa rima astral, numa emoção divina

Num sentimento infindo e misterioso
Num invisível mas sensível clarão
Como matéria transcendente, é luminoso
O poeta é alguém que forma uuma visão.
Pressago

Nas ÁGUAS daquele lago
dormita a sombra de Iago...

Um véu de luar funéreo
cobre tudo de mistério...

Há um lívido abandono
do luar no estranho sono.

Dá meia-noite na ermida,
como o último ai de uma vida.

São badaladas nevoentas,
sonolentas, sonolentas...
Do céu no estrelado luxo
passa o fantasma de um bruxo

No mar tenebroso e tetro
vaga de um náufrago o espectro.

Como fantásticos signos,
erram demônios malignos.

Na brancura das ossadas
gemem as almas penadas.

Lobisomens, feiticeiras
gargalham no luar das eiras.

Os vultos dos enforcados
uivam nos ventos irados.

Os sinos das torres frias
soluçam hipocondrias.

Luxúrias de virgens mortas
das tumbas rasgam as portas.

Andam torvos pesadelos
arrepiando os cabelos.

Coalha nos lodos abjetos
sangue roxo dos fetos.

Há rios maus, amarelos
de presságios de flagelos.

Das vesgas concupiscências
saem vis fosforescências.

Os remorsos contorcidos
mordem os ares pungidos.

A alma cobarde Judas
recebe expressões cornudas.

Negras aves de rapina
mostram a garra assassina.

Sob o céu que nos oprime
langüescem formas de crime.

Com os mais sinistros furores,
saem gemidos das flores.

Caveiras! Que horror medonho!
Parecem visões de um sonho!

A morte com Sancho Pança,
grotesca e trágica, dança.

E como um símbolo eterno,
Ritmo dos Ritmos do inferno.

No lago morto, ondulando,
dentre o luar noctivagando,





~~** Simbolismo ~~**

O Simbolismo foi uma escola literária de poetas, que tinham colegas por todo mundo como o francês Charles Baudelaire, mas tinham pouco reconhecimento e aceitação artística. Vários de seus integrantes morreram pobres, não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecido até hoje.
Movimento de relações com o Modernismo, influencia a maioria dos poetas da 1ª fase do Modernismo. Aqui surgem as primeiras rupturas com os padrões rígidos de composição e restabelecimento da relação entre poesia e existência, separadas pelos parnasianos.

     Textos:

Cárcere das Almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço, olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tu se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!

Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-me na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria dar a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu.
Seu corpo desceu ao mar...


Aluna: Larissa Rocha IIº K

Poema

Ossa Mea

II
Mãos de finada, aquelas mãos de neve, 
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve, 
Que parece ordenar mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleve
Alguém que ante os altares sacrifica:
Mãos que consagram, mãos que partem breve, 
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas, 
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes, 
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas, 
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando os olhos das visões defuntas...



Por: Izabele Andrade
Simbolismo



Entende-se
aqui por Simbolismo, não o conjunto de manifestações espiritualistas do último quartel do séc. XIX e o primeiro quartel do séc. XX (como têm entendido alguns), mas, num sentido mais especificamente histórico-literário, uma escola ou corrente poética (incluindo a poesia em prosa e a poesia teatral), que se afirma sobretudo entre 1890 e 1915 e que se define por um conjunto de aspectos, aliás variáveis de autor para autor, que dizem respeito às atitudes perante a vida, à concepção da arte literária, aos motivos e ao estilo. Sem dúvida esta corrente literária insere-se na atmosfera mental, antipositivista, de fins do séc. XIX; mas certos caracteres de técnica literária, de forma, são inerentes ao conceito de Simbolismo aqui adoptado. Entretanto, há ainda um conceito mais restrito: o daqueles que, tomando como pontos de referência paradigmáticos Mallarmé e Claudel, definem o Simbolismo pela busca obstinada duma verdade metafísica, demanda cujo instrumento de descoberta seria o símbolo. Com efeito, se teimássemos em definir o Simbolismo tão-só pela visão do Universo como teia de analogias, floresta de misteriosas «correspondências» (na acepção baudelairiana) que o poeta se propõe desvendar, então não teria havido Simbolismo autêntico em Portugal: os poetas portugueses dessa época ter-se-iam limitado a copiar grosseiramente gestos cujo sentido profundo não alcançavam. Mas os próprios autores considerados representantes do Simbolismo francês, de que o nosso deriva (Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, Laforgue, Régnier, A. Samain, Valéry, etc.), seguiram caminhos divergentes, a ponto de Johansen afirmar que discordavam uns dos outros em quase tudo excepto quanto à existência dum ideal em poesia e na aguda consciência do estilo


Principais autores simbolistas do Brasil :


A

  • Alphnsus de Guimaraens
  • Artur de Sales

B

  • Batista cepelos

C

  • Carlos Dias Fernandes

E

  • Eduardo Guimarães

F

  • Farias Neves Sobrinho

  • José Albano

L

  • Luis Delfino

N

  • Nestor Vitor

P

  • Pedro Kikerry

X

  • Xavier Marques